Na performance musical, Tragtenberg (teclado, voz e clarone) utiliza elementos da música eletrônica e da tradição da música popular brasileira, para ao lado de Emerson Boy (saxofones, cítara e cavaquinho), Wellington Tibério (glass harmonica), Celso França (percussão) e Márcio Barreto (voz e trompete), costurar vozes que se sobrepõem e que apresentam o texto e suas vocalidades, em dimensões polifônicas.
O Inferno de Wall Street (1876) é um texto do poeta Joaquim de Sousândrade (1833-1902) no qual testemunha, na Nova Iorque do final do século XIX, a efervescência da bolsa de valores num quadro de falcatruas, escândalos políticos, morais e religiosos, que moldam o inferno das financeiras norte-americano. O texto faz parte do poema épico O Guesa em que Sousândrade incorpora amitologia Inca, e conta a trajetória de um menino oferecido em sacrifício aos deuses. Como seu alter-ego, o Guesa, escapa dos sacerdotes do sacrifício e penetra na cidade norte-americana, onde encontra o Inferno da usura.
Compositor, produtor musical e saxofonista, Livio Tragtenberg prefere autodefinir-se como um de-compositor. Frequentemente, suas obras unem a música com outras linguagens, como teatro, cinema, poesia e artes visuais e transitam em diferentes fronteiras – o erudito e o popular, o jazz e a música contemporânea, o acústico e o eletrônico. Sua obra se caracteriza pela variedade de formas (operística, sinfônica, camerística), materiais (instrumental, vocal, eletroacústico) e meios (disco, concerto, peça, filme, vídeo, instalação).
Sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica, Tragtenberg explora frequentemente a manipulação sonora. A improvisação e a interatividade também são marcas de seu trabalho, que busca a colaboração de não músicos. Para compor O Inferno de Wal Street, o artista recebeu bolsa da VITAE, em 1986, e em 1991, a bolsa da Guggenheim Foundation, NY, para composição de uma segunda ópera sobre o Gusa, o episodio indígena, Tatuturema, que se chama U-TUPIA, ainda inédita.