Produzidas entre 1998 e 2018, as mais de 30 obras reunidas na mostra Jorge Fonseca – Labirinto de amor dão um novo significado a objetos do imaginário coletivo e apontam brechas de afeto em coisas simples do cotidiano. Pertencentes a acervos de grandes instituições e colecionadores, elas contam um pouco da trajetória desse artista autodidata mineiro, que foi foi maquinista de trem e marceneiro por mais de 15 anos.
Costurar, pintar e bordar o amor. Enfeitar e dar graça a desilusões, tropeços, desavenças. É assim que Jorge Fonseca concebe sua obra. “A mostra sugere a observação da nossa vida e da vida do outro de um jeito diferente. São obras que contam histórias, falam de percalços, sofrimentos, humores e alegrias tão familiares às pessoas”, explica o artista, em atividade desde o início dos anos 1990. “É como o nome da exposição sugere: a vida nada mais é que um grande labirinto de situações inesperadas.”
Em criações singulares, que misturam artesania, arte conceitual, pop e kitsch, há uma forte atitude contemporânea, uma crítica contundente às relações humanas. Fonseca dá outra leitura a materiais comuns, tecidos, miudezas de armarinho ou objetos simples que habitam o imaginário de muita gente. “É o que chamo de ‘obra desfrutável’. As pessoas se envolvem emocionalmente com as histórias contadas por cada peça”, diz a crítica de arte Fernanda Terra, curadora da exposição.
“Elas se reconhecem, recordam vivências ou lembram de alguém que viveu aquilo. É algo que fala do real, da vida como ela é, mas não de uma forma endurecida e sim cheia de afeto. É difícil observar uma das obras e não abrir um sorriso. E ao mesmo tempo é ácida, irônica, remete aos sentimentos mais íntimos”, ressalta Terra. A curadora destaca ainda que Fonseca é um grande observador do cotidiano, das relações, dos sentimentos. “Por mais que sua obra aborde questões da cultura popular novelística, folclore e religiosidade, o amor se destaca. É um reflexo de como ele enxerga o outro, sempre de um jeito carinhoso.”