Pais com experiência nesse sistema dão dicas e avisam: não se cobre demais neste momento atípico. Veja brincadeiras para os filhos se divertirem sozinhos ou com os irmãos.
Focar no trabalho ou dar atenção aos filhos? O dilema bem conhecido de pais que trabalham de casa é novidade para muita gente que entrou em home office nos últimos dias, na batalha contra o coronavírus.
Pais e filhos estão tendo uma convivência tão intensa quanto a dos fins de semana. Só que com a obrigação de dividir o tempo com o trabalho e as tarefas domésticas, tudo num mesmo ambiente.
O G1 ouviu quem já tem experiência em home office para reunir dicas e saber como esses pais também estão lidando com o fato incomum de ter todo mundo em casa, o tempo inteiro.
Dois pontos foram unanimidade:
a importância de se manter alguma rotina
não se cobrar demais em cumprir o planejamento e as regras que valiam na rotina de antes do isolamento
Estruturar o dia
Trabalhando em home office desde que a filha Manuela, de 5 anos, nasceu, a gerente de projetos Adriana Amorim está em casa também com o marido e um filhote de cachorro adotado há pouco tempo.
“Minha dica é organização. Colocar hora para tudo: combina se tem algum horário em que precisa fazer reunião, faz horário de almoço certinho, a hora da lição…”, aconselha Adriana.
As atividades do dia podem ser colocadas num quadro. Não é preciso manter uma agenda rígida, mas é importante a criança saber o que vai acontecer, ensina Patrícia Marinho, publicitária e criadora do site Tempo Junto, onde ensina brincadeiras junto da sócia Pat Camargo.
“Mesmo as crianças menores estão acostumadas com estrutura. Na escolinha tem estrutura, uma sequência de ações. Elas não têm noção do que são 15 minutos, 2 horas. Mas é bom saber o que vamos fazer no dia”, explica Patrícia, mãe de uma menina de 6 anos e de outra de 13.
Enquanto falava com o G1, na última quinta-feira (19), ela combinava com a filha mais nova: “Vai fazer uma coisa divertida e vamos fazer a tarefa depois. Aí eu estudo e ficamos juntinhas na mesa.”
Dividir tarefas
Não é hora de ninguém ficar sobrecarregado: é importante dividir as tarefas.
O marido de Adriana Amorim trabalha em uma multinacional de seguros e precisa fazer o home office em horário comercial. Mas a gerente conta com ele na hora de preparar o almoço e para acompanhar Manuela na tarefa que a escola manda por e-mail.
As crianças também devem ajudar na casa, diz Patrícia Marinho. “As pequenas, de até 3, 4 anos, ainda não têm a capacidade de entender o que é. As maiores já conseguem lidar com tarefas como colocar roupa suja no cesto, esticar um lençol, etc.”
Na distribuição de atividades, vale considerar o gosto de cada um. “Minha filha achou divertido o aspirador. Então, combinei que vai ter 2 vezes por semana”, conta a publicitária.
Na Alemanha, a brasileira Caroline D’Essen, autora do blog Maternidade Desmistificada, também tem levado em consideração as preferências dela e do marido durante o isolamento.
“Eu troquei o planejamento alimentar pelas roupas, pois simplesmente detestava organizar as compras e meu marido pagava para não ter que pendurar roupa no varal”, explica. O casal tem duas filhas, Luisa e Julia, de 2 e 5 anos.
A que horas trabalhar?
Se não existir a necessidade de cumprir um horário de expediente comercial, pais de crianças pequenas podem aproveitar quando elas dormem ou tiram uma soneca para trabalhar.
Horários flexíveis podem ser até mais produtivos, acredita Patrícia. “Trabalho em home office há 6 anos. O conceito de produtividade baseada em carga horária não dá. Com foco, se você se compromete, desliga notificação do Whatsapp, redes sociais, elimina as distrações. Faz uma lista, prioriza. E é bem provável que renda mais”, ensina.
Se for trabalhar no expediente normal, não precisa ficar de terno e gravata, mas também não passe o dia de pijama, ensina a consultoria Robert Half, especializada em recrutamento. Vestir-se com roupa que usaria no escritório é um sinal para a criança para que é hora de a mãe ou o pai trabalharem.
Acompanhar esse trabalho, dentro do possível, também pode ser instigante para os filhos. “Eu tinha uma reunião em inglês, ela ficou vendo eu falar inglês por 1h30 aqui”, conta o gerente de marketing Leonardo de Abreu, pai de Martha, de 6 anos.
Há 3 anos ele divide os dias entre o home office e o trabalho presencial em uma indústria de aquecedores.
“Em casa não sou mais interrompido do que lá na fábrica”, diz Leonardo, lembrando dos chamados de colegas com assuntos diversos quando está no escritório.
E, mesmo à distância, pais têm se ajudado. Adriana conta que, desde a última quinta, consegue ter um tempinho livre quando a filha participa de conversas em vídeo pela internet com os colegas da escola.
“Começou ontem. A cada vez um pai ou mãe organiza e acompanha. Eles propõem gincanas, pedem para buscarem objetos pela casa, desenharem. (Um adulto) Lidera a recreação para outros pais poderem trabalhar. E elas matam a saudade dos amigos”, explica.
Momento de brincar sozinha
Permitir ou estimular que a criança brinque sozinha também é uma forma de encontrar brechas para o trabalho.
Patrícia criou em casa um momento que chama de “tempo quieto”, que dura em torno de 20 minutos a 1 hora, dependendo da idade da criança. “Nessa hora, é cada um na sua, fazendo o que precisa, sozinho. E (para a criança) é sem tela (TV, computador celular ou tablet)”, destaca.
“Claro que com criança pequena não é totalmente sozinho. Você fica ali perto, ela faz um desenho, brinca com massinha, lê um gibi, um livrinho. Isso vai construindo a habilidade de ficar sozinha. Criando o conceito de a criança ficar consigo”, explica.
Adriana diz que Manu já tem o costume de brincar sozinha de manhã. Às tardes, ela tem feito uma sessão “cinema+lanchinho” com a filha: “Ela fica entretida, aí resolvo algo no computador, do lado dela”.
Patrícia sugere ainda criar em casa um “cantinho” ou uma “estação”, como dizem nas escolas.
Basta separar alguns itens com os quais a criança poderá criar algo ou brincar de faz de conta. Por exemplo: objetos de escolinha (lousa, giz, bonecas), de lanchonete (improvisado mesmo, com papel amassado em forma de bolas e cones que podem virar “sorvete”, dinheirinho de mentira, cardápio)… Ou então materiais de arte, sucata, revista velha, sobra de tecido.
“É um convite para a criança criar, imaginar por conta própria”, explica Patrícia.
Ela lembra que deixar esses materiais e os brinquedos acessíveis também é importante para criança desenvolver a habilidade de brincar sozinha.
Se ficar com medo que a brincadeira termine com parede rabiscada ou mesa riscada, delimite um espaço, forre a mesa ou a parede com papel ou saco de lixo.
“Entre (dizer) sim e não, ouve a criança e dá um limite”, sugere a especialista. “E, também, passar uma camada de tinta na parede depois do coronavírus acho que será o menor dos problemas”, brinca.
Não se cobre demais
Todos os pais ouvidos na reportagem destacaram uma postura fundamental: não exigir demais deles mesmos nem dos filhos. Afinal, o isolamento é uma situação atípica.
“Não dá pra manter a mesma realidade, o padrão do dia-dia. A casa vai ficar mais suja, se um dia a criança ficar vendo mais televisão, não vai emburrecer”, diz Patrícia. “É mais hora de ser feliz do que de ter razão. Inclusive porque não sabemos quando vai voltar ao normal.”
“É o momento de não ter muitas regras. Pode ter um tempo no tablet, sorvete fora do dia… Não dá para ser mulher maravilha e super-homem”, destaca Adriana.
E se prepare para o que foi planejado não se cumprir.
“Não ache que seus filhos vão se entreter o tempo todo com o que você oferecer a eles, que não vai ter choro, que você vai conseguir manter a casa limpa e a vida ‘normal’. Vai sujar, vai bagunçar, vai ter grito, choro e grandes desafios”, adianta Caroline.
“Nós ‘descobrimos’ que, se deixarmos as expectativas bem baixas, tudo que vier é lucro”, completa.
Quando der… entre na brincadeira
Tenha momentos de brincar com a criança. Faz bem também aos adultos, melhora o clima da casa e aproxima pais e filhos, dizem eles.
Fonte: G1
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