Feridas têm sido observadas, principalmente, em crianças e jovens com menos de 20 anos

Os sintomas de covid-19 ainda não são totalmente claros e podem manifestar-se de formas diferentes em cada pessoa. Na Itália, médicos começaram a observar lesões avermelhadas ou arroxeadas nos dedos das mãos e dos pés e também na região plantar dos pés de crianças e jovens com suspeita da doença.

 

De acordo com um artigo publicado no European Journal of Paediatric Dentistry, o primeiro relato do tipo foi documentado por um pediatra em um menino de 13 anos, inicialmente sem sintomas clínicos de covid-19.

O paciente apresentou lesões arredondadas de 5-15 mm de diâmetro nos dos dedos dos pés. E só dois dias depois, apareceram os sintomas mais comuns da doença, como febre, dor muscular e de cabeça.

 

Enquanto isso, uma bolha de aproximadamente 1 cm de diâmetro se formou na lesão, que piorou ainda mais nos dias seguintes com a formação de crostas escuras.

O que chamou atenção dos médicos é que a mãe e a irmã do garoto apresentaram febre e tosse seis dias antes do aparecimento das lesões nos pés do menino. Por conta da situação de emergência no país, eles não conseguiram fazer exame para confirmar se estavam ou não com a doença.

 

Desde então, começaram a circular nas redes sociais de médicos, inúmeras imagens de lesões parecidas com as do garoto italiano, em particular, no Twitter e nos fóruns de dermatologia pediátrica. Todas os casos eram de crianças e jovens assintomáticos, mas que estavam inseridos num contexto familiar de covid-19.

Desde então, começaram a circular nas redes sociais de médicos, inúmeras imagens de lesões parecidas com as do garoto italiano, em particular, no Twitter e nos fóruns de dermatologia pediátrica. Todas os casos eram de crianças e jovens assintomáticos, mas que estavam inseridos num contexto familiar de covid-19.

 

“Cada um dos nossos pacientes apresenta este aspecto que corresponde à perniose (ferida que aparece em temperaturas muito frias) com vasculite (inflamação na parede dos vasos) ou microtrombose (coágulos em pequenos vasos). Necessitamos realizar estudos com estes jovens para entender melhor a patogenia”, publicou o dermatologista italiano Ramon Grimalt em sua conta no Twitter.

Outro médico, o espanhol Txema Almela, argumenta que o fato de não ser oficialmente reconhecido como um sintoma da infecção pelo SARS-CoV-2 não significa que não o seja, assim como acontece o anosmia (redução ou perda de olfato). “É muito estranho ver tantas dessas inflamações em crianças e jovens no mês de abril”, observou ele em seu Twitter.

 

Manifestações virais
Esses casos não são necessariamente uma surpresa, já que erupções cutâneas são comuns em outras infecções virais, como lembra o dermatologista Gunter Hans Filho, do Departamento de Doenças Bolhosas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

“Qualquer vírus em potencial poderia fazer uma manifestação desse tipo aí. As viroses podem manifestar-se por formas inespecíficas, a mais frequente é o rash cutâneo, um exantema. Outro tipo também relacionado a vírus são lesões que lembram urticárias”, diz o médico em entrevista à Catraca Livre.

 

Segundo ele, essas manifestações de virose na pele são mais comuns em crianças, enquanto que, em adultos, o rash é, na maioria das vezes, causado por medicamento.

Hans Filho lembra, no entanto, que esses são relatos pontuais e que nem todas as crianças com sintomas de covid-19 apresentam isso. “São achados clínicos, morfológicos, sem respaldo laboratorial, porém, com forte evidência epidemiológica”, completa.

Os quadros até agora descritos mostram que as lesões podem apresentar queimação e coceira e evoluir para a formação de bolhas ou crostas escuras.

 

Ainda de acordo com o especialista Gunter Hans Filho, o quadro caracteriza um problema de natureza vascular. “O que tem sido observado com a covid-19, não só na pele, como em outros órgãos, é um quadro que simula um distúrbio de coagulação, onde os pacientes podem apresentar microtrombo em alguns órgãos”, diz.

Esses microtrombos, citados pelo médico, também estão associados à gravidade e à letalidade do coronavírus. São eles os responsáveis por não deixar o sangue chegar aos pulmões de pacientes graves para remover o CO2 e levar oxigênio aos órgãos, por exemplo. É por isso, que muitas vítimas morrem de embolia pulmonar.


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