Em tempos de pandemia de coronavírus, é normal que as crianças sintam mais medo: medo de adoecer, ou de alguém da família pegar o vírus ou até de não ver mais os avós. Mas a verdade é que o medo faz parte do desenvolvimento da criança. Quais são os medos mais comuns na infância e como lidar com eles?

 

Função protetiva

 

De acordo com Andressa Bellé, mestre em psicologia pela UFRGS, especialista em psicoterapia cognitivo-comportamental pela UNISINOS, no Rio Grande do Sul, o medo é uma emoção primária. Ou seja, nós já nascemos com ele. O medo tem a função de nos proteger. “Por isso é bacana validar o medo da criança como uma emoção importante”, diz.

 

Em cada fase da vida o medo se manifesta de maneiras diferentes. Os bebês de até um ano de idade, por exemplo, costumam estranhar pessoas diferentes dos pais, o que é uma função protetiva que evolui com a nossa espécie.

 

A partir de um ano, é normal sentir medo de que os pais desapareçam. Entre dois e três anos, a criança passa a fazer relações de causa e efeito e passa a rejeitar barulhos estranhos, como trovões e coisas que fogem da sua linha de conforto ou de seu cenário habitual. É comum nessa fase sentir medo dos pais não a buscarem na escola, medo de abandono ou medo de médico, por exemplo.

 

Conforme a cognição vai se desenvolvendo, a criança passa a ter medo de representações, como fantasmas, monstros e pessoas com fantasias. São receios que vêm acompanhados do desenvolvimento da imaginação e da criatividade.

 

A partir dos cinco anos, as crianças já observam melhor o ambiente e os medos passam a ser mais concretos: medo de ladrões, de se machucar, de perder os pais, de animais, etc. Entre os cinco e oito anos é comum o medo do sobrenatural e, entre oito e 11 anos, aparece com mais frequência o medo da morte.

 

Fobia é paralisante

 

Mas, apesar de ter uma função protetiva importante, o medo pode ter um efeito reverso quando se transforma em pânico. Segundo a psicóloga Ana Paula Syqueira, que é gestora do Espaço Aberto Desenvolvimento Humano, em São Paulo, a diferente entre medo e pânico é a intensidade e a frequência. O medo é mais pontual. Ele acontece e tende a passar quando a criança é acolhida, quando os adultos a acalmam ou quando o objeto do medo se afasta. Com o pânico, os choros são mais intensos. A criança fica muito nervosa, transpira e, geralmente, as crises acontecem todos os dias.

 

De acordo com Andressa Bellé, quando o medo é excessivo, ele perde a função protetiva. As fobias, que são um medo exacerbado, impedem a pessoa de entrar com o objeto fóbico e podem ser altamente paralisantes. Por exemplo, uma fobia social pode impedir uma criança de apresentar um trabalho da escola e, futuramente, pode prejudicar o desempenho profissional daquela pessoa. Ou uma pessoa que tem fobia de avião pode deixar de aproveitar uma viagem por conta desse medo.

 

“Eu já tive fobia de cachorro, e quando via um, corria e atravessava a rua, correndo o risco de ser atropelada. O medo excessivo é menos protegido do que o medo real e saudável”, afirma.

 

Não ignore

 

E como lidar com os medos comuns da infância e ajudar a criança a superá-los? Para Ana Paula Syqueira, o mais importante é não menosprezar o medo e deixar o pequeno falar sobre o que está sentindo. “O medo, para a criança, é real. E o maior erro dos adultos é minimizar ou ignorar. O ideal é explorarmos, perguntar o que ela está pensando, o que está sentindo, onde ela viu o objeto do medo”, diz. A criança precisa de alguém que passe confiança e entenda o que ela está sentindo.

 

E também é importante tentar não transmitir os nossos medos para os filhos. “Pais medrosos, filhos medrosos. Pais ansiosos, filhos ansiosos”, diz Ana Paula. Para a psicóloga, os adultos que sofrem com medos ou ansiedades excessivas devem procurar uma ajuda profissional para trabalhar suas inseguranças e poder passar confiança para as crianças.

 

Andressa Bellé também confirma que as crianças imitam o modelo dos adultos. “Sermos pais e mães nos obriga a olharmos para nós mesmos”, diz. Para a psicóloga, vencer os próprios medos também é importante para os pais. “Lembrando que a coragem não é a ausência do medo, não é fugir das situações. Não precisamos mostrar uma superforça, mas é possível melhorar o encaminhamento dos medos das crianças quando conseguimos demonstrar uma capacidade de enfrentamento”, diz. Ou seja, enfrentar os medos é uma atividade em família.

 

Fonte: MSN


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