A Disciplina Positiva (DP) se baseia fortemente nos conceitos elaborados e desenvolvidos por Alfred Adler, psicólogo austríaco fundador da psicologia do desenvolvimento individual. De acordo com ele, crianças são seres sociais e o comportamento é determinado dentro de um contexto social. No livro Disciplina Positiva, a norte-americana Jane Nelsen explica que as crianças tomam decisões sobre si mesmas e sobre como se comportam baseadas em como elas vêem a si mesmas em relação aos outros e em como elas pensam que os outros se sentem em relação a elas.
Lembremos que as crianças estão, a todo o momento, tomando decisões e formando crenças sobre si mesmas, sobre o mundo e sobre o que precisam fazer para sobreviver ou prosperar. “Quando estão prosperando, elas estão se desenvolvendo em todas as sete percepções e habilidades significativas. Quando estão no modo sobrevivência (tentando descobrir como sentir um senso de aceitação e importância), adultos com frequência interpretam isso como mau comportamento”, escreve Jane Nelsen em seu primeiro livro.
Antes de continuarmos, entretanto, vale elencar quais são as sete percepções e habilidades significativas segundo a Disciplina Positiva.
Forte percepção das habilidades pessoais: “Eu sou capaz
Forte percepção sobre sua importância nas relações primárias: “Eu contribuo de maneira significativa e sou genuinamente necessário”
Forte percepção de seu poder ou influência pessoal sobre a própria vida: “Eu posso influenciar as coisas que acontecem comigo”
Forte habilidade intrapessoal: habilidade de entender suas próprias emoções e de usar esse entendimento para desenvolver autodisciplina e autocontrole;
Forte habilidade interpessoal: habilidade de trabalhar com os outros e desenvolver amizades por meio de comunicação, cooperação, negociação, troca, empatia e escuta ativa;
Forte habilidade sistêmica: a capacidade de lidar com os limites e consequências da vida cotidiana com responsabilidade, adaptabilidade, flexibilidade e integridade;
Forte habilidade de avaliação: habilidade de usar a sabedoria para avaliar as situações de acordo com valores apropriados.
A Disciplina Positiva tem como objetivo justamente usar o modo sobrevivência, ou seja, o que, nós adultos, interpretamos como mau comportamento, para ensinar às crianças as sete percepções e habilidades significativas. É fundamental, portanto, compreender que o comportamento é baseado em objetivo e o primeiro objetivo é ser aceito. Entretanto, as crianças não têm consciência do objetivo que querem atingir.
Depois da morte de Adler, o austríaco e psquiatra, Rudolf Dreikurs, desenvolveu seu sistema de psicologia individual de forma a tornar-se um método pragmático para o entendimento das causas do mau comportamento em crianças e para estimular a cooperação sem punição ou recompensa. Segundo ele, “as crianças são boas observadoras, mas péssimas intérpretes”. Ou seja, às vezes elas têm ideias equivocadas sobre como podem conseguir o que querem e se comportam de formas que as levam justamente ao contrário do seu objetivo.
Jane Nelsen assim define: “um mau comportamento nada mais é do que falta de conhecimento (ou consciência), uma ausência de habilidades eficazes e comportamentos adequados do ponto de vista do desenvolvimento, desencorajamento – ou, frequententemente, uma questão que nos convida a utilizar nosso cérebro primitivo (leia mais sobre isso na minha coluna Como funciona o cérebro dos nossos filhos), para o qual a única opção é disputa por poder, desistência e comunicação ineficaz”.
A DP fala em quatro objetivos equivocados e comportamentos:
Atenção indevida – a crença equivocada: “Eu me sinto aceito apenas quando tenho a sua atenção”;
Poder mal dirigido – a crença equivocada: “Eu me sinto aceito apenas quando sou o chefe, ou pelo menos quando não deixo você mandar em mim”;
Vingança – a crença equivocada: “Eu não me sinto aceito, mas pelo menos posso me vingar”;
Inadequação assumida – a crença equivocada: “É impossível ser aceito. Eu desisto”.
Todxs nós buscamos atenção e não há nada de errado nisso. O problema acontece quando as crianças querem atenção indevida e buscam essa aceitação por meio de comportamentos mais irritantes do que úteis e o comportamento irritante vem da crença equivocada da criança de que “eu sou aceitx apenas quando sou o centro das atenções”. No caso do poder, acontece a mesma coisa: quando as crianças têm a crença equivocada de que são aceitas apenas quando estão no comando, seu uso do poder mal dirigido parece mau comportamento.
Portanto, para a DP, uma criança mal comportada é uma criança desencorajada que está tentando nos dizer: “eu não sinto que sou aceita ou tenho importância e eu tenho uma crença errônea sobre como conseguir isso”. É importante, assim, desenvolver a capacidade de decifrar códigos. Quando uma criança se comporta mal, pense nesse mau comportamento como um código e se pergunte: “o que ela realmente está tentando me dizer?”.
Além disso, precisamos estar atentxs a outros dois pontos. O primeiro é que, na maioria das vezes, as crianças pequenas estão apenas agindo como crianças e não se comportando mal. Segundo ponto: se queremos que as crianças aprendam a controlar seu comportamento, precisamos aprender a controlar o nosso.
Fonte: Bora Aí.
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