A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de ebola na República Democrática do Congo (RDC) como uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Ela tomou a decisão com base no Regulamento Sanitário Internacional acordado em 2005. O documento exige que a OMS declare uma emergência quando um evento de saúde pública, como um surto, se torna extraordinário porque constitui um risco para outros países, e quando uma resposta internacional coordenada é exigida

 

O comitê de emergência da OMS — responsável por tomar essa decisão — se reuniu quatro vezes desde que o surto foi declarado na região de Kivu do Norte, em 1º de agosto de 2018. Durante a última reunião em junho, o comitê decidiu que o surto não constituía uma emergência de saúde pública de interesse internacional.

 

Um mês depois, o comitê mudou de ideia. Suas razões para isso foram que o número de casos aumentou de 2071 para 2522. Embora a taxa de mortalidade tenha permanecido em 67%, três novos casos foram detectados em Uganda. Além disso, um caso de ebola foi diagnosticado em Goma, uma cidade de quase 2 milhões de habitantes que é um ponto de entrada para a RDC (o município fica na fronteira ruandesa).

 

O impacto esperado da decisão é que mais recursos serão levantados para as equipes de resposta em campo, à medida que o apoio internacional for intensificado. Isso também dará ao Ministério da Saúde da RDC mais flexibilidade para garantir que as equipes de resposta atinjam até mesmo as áreas mais remotas.

 

A decisão é significativa e deve ter um impacto crítico na resposta – e dará mais fôlego para abordar a nova fase do surto. A medida, porém, não é uma bala de prata. O surto de uma doença mortal dentro de uma zona de conflito — e agora em uma grande cidade — não pode ser resolvido apenas com uma solução técnica, como mais financiamento.

 

O que está funcionando, o que não está

 

A resposta ao ebola não foi suficiente para impedir a propagação do surto. Isso ocorre apesar dos grandes esforços das incansáveis ​​equipes de resposta ao vírus, envolvimento da comunidade, vigilância, vacinação e comunicação.

 

O número de casos e mortes não diminuiu, o que sugere que as pessoas ainda estão evitando ir aos centros de tratamento de ebola para obter cuidados. Isso apesar do fato de que novas terapias estão sendo disponibilizadas por meio de um ensaio clínico randomizado.

 

Mais de 100 mil pessoas foram vacinadas, o que não impediu a propagação da doença, embora tenha contribuído para controlá-la. A introdução de uma segunda vacina por meio de um ensaio clínico poderia ajudar, especialmente nas regiões vizinhas de Kivu do Norte, onde nenhum caso foi relatado.

 

O outro fator que retém os esforços para eliminar o surto tem sido o crescente número de ataques aos profissionais que atuam no país. O médico Richard Mouzoko, epidemiologista que trabalhava para a OMS, foi morto em abril, e clínicas foram incendiadas. Os ataques destacam a complexidade de responder ao surto — já complicado em uma zona de conflito.

 

A violência também está ficando no caminho do envolvimento comunitário, uma parte importante de qualquer resposta ao ebola. A RDC tem enfrentado ainda desafios para obter os fundos necessários para gerenciar a crise de maneira eficiente.

 

O anúncio da Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional é um apelo à comunidade internacional para ação. Mas os fundos extras não serão suficientes. A questão em Kivu do Norte precisa ser resolvida, pois continua sendo um dos principais catalisadores desse surto.

 

Resolver o surto requer um ambiente pacífico, no qual a comunidade confie na equipe de resposta ao ebola e, portanto, aumente seu envolvimento. Sem uma maior conscientização e envolvimento da comunidade, é difícil ver o fim do surto de ebola na RDC.

 

Fonte: Revista Galileu.


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