Neste feriadão de quarentena, quem quer pensar em pandemia? Assim, iniciei meu dia. A ideia de cozinhar algo diferente para o almoço terminou em um “almojanta” bem básico com salada, bolinho de arroz e abóbora assada. Nada original, mas tentando sair do script culinário básico brasileiro do arroz com feijão.

 

Na segunda etapa do dia, que tal ler um livro? Mas percebo que acabei escolhendo “1984” do George Orwell para reler. Os jornais estão longe de ser um refúgio da pandemia e me irrito com o som alto de um vizinho fazendo churrasco e com a irresponsabilidade de crianças brincando na rua.

 

Em uma outra tentativa, recorro ao cinema. Há de ter algum filme para esse feriado. Todos os que me interessam são catastróficos. Não tem jeito. Por mais que se busque fugir, a pandemia pula na nossa cara. Assim, bem majestosamente pandêmica. Então, decido deixar de fugir dela e mergulhar nas suas provocações. Já que é para viver tudo isso, que seja intenso – sem se infectar pelo vírus, claro.

 

Bem direta e objetivamente, decidi dividir com vocês três filmes sobre futuro apocalíptico e pandemia que acho muito bons. Tem de tudo para se identificar, tem vários debates para fazer e vários outros alívios ao perceber que, sim, estamos mal, mas não estamos no cenário dos filmes em si. Certo, de um pode até ser que estejamos. E fiquei pensando desde ontem, quando li que o vulcão Anak Krakatoa resolveu dar as caras na “festa”, que pode ser que o futuro apocalíptico de um dos filmes não esteja tão distante – perdão pelo humor contaminado de hoje. Mas, por enquanto, fiquemos na ficção, uma pipoca, um copo de guaraná para as crianças e uma taça de vinho para as adultas.

 

A primeira dica é de um curta-metragem, de 1962. Ah, eu amo filmes antigos. E, além disso, esse é um clássico do cinema: “La Jetée”, de Chris Marker, tem 28 minutos e é quase todo construído por fotomontagens, com uma história contada por um narrador. O filme faz parte do movimento artístico francês “nouvelle vague”. Digressão importante: a expressão, ao que parece, foi cunhada por Françoise Giroud, em 1958, quando falou dos novos cineastas franceses em uma revista, que não me recordo o nome agora. Sabe a cena clássica do filme Jules et Jim, do François Truffaut, na qual três jovens, uma mulher e dois homens, correm em uma passarela? Pois então, esse é um filme bem importante para compreensão deste movimento artístico. Mas, voltando ao La Jetée. O curta é sobre um planeta destruído após a 3ª Guerra Mundial, em que os humanos vivem no subterrâneo. Um homem, que está preso e prestes a ser executado, é enviado ao passado, para tentar interferir em eventos que podem mudar o presente apocalíptico. Esse homem é atormentado por uma memória de sua infância, marcada por uma mulher, até então, enigmática e esse retorno concatena e traz o entendimento da memória e do seu passado. As influências deste filme são inúmeras, mas as mais marcantes, para mim, são: o filme “12 macacos”, de 1995, dirigido por Terry Gilliam, que já falei sobre neste diário; e o videoclipe “Jump They say”, de 1993, do maravilhoso e do qual sou fã, David Bowie. Só por influenciar este último, já vale cada minuto.

 

“Contágio”, de 2011, é a segunda dica. A direção é de Steven Soderbergh e o elenco é incrível: Matt Damon, Jude Law, Kate Winslet, Marion Cottilard e Gwyneth Paltrow – queria ser amiga dessas duas, apenas. O enredo é sobre a disseminação de um vírus, o MV-1 e que se inicia na China. Olhe só, você, que prato cheio para um cineminha neste feriado! O filme é recheado de teorias conspiratórias, sobre o vírus ser uma arma biológica; com um poder público que se recusa a tomar medidas e dar respostas para conter o avanço e disseminação, não dando importância para o seu impacto; um lunático, que espalha que se curou com um medicamento, criando uma corrida atrás da substância em farmácias e que depois é desmascarado e confessa que só queria aumentar as vendas do medicamento; as cidades entram em quarentena; milhões de pessoas morrem. Ao final, a revelação sobre como tudo começou: um trator derruba árvores em uma floresta tropical chinesa, perturbando morcegos. Um destes morcegos se esconde em uma fazenda de porcos. Um dos porcos come um pedaço de banana deixada pelo morcego. Um chef de um cassino abate o porco e o prepara como refeição. Ao cumprimentar uma das personagens, ele a infecta e ela se torna a paciente zero. Não preciso nem dizer mais nada, né?

 

Por fim, o filme que está entre os mais assistidos nas plataformas de streaming, o sul-coreano “Flu”, de 2013. Diferente do que foi disseminado há dias, o filme não previa o novo coronavírus e a “Flu” é bem mais mortal: 100%. O filme foi dirigido por Sung-su Kim e fala de uma pandemia a partir de um vírus que sofre uma mutação a partir do H5N1, conhecido como “gripe aviária”. O vírus se espalha pelo ar e tem uma letalidade absurda, matando em 36 horas. A história do vírus e disseminação é bem mais pesada do que estamos vivendo, mas a coincidência está na pouca importância que as autoridades dão quando um homem morre por um vírus desconhecido e no uso da quarentena.

 

Fonte: Claudia.


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