Lançado no início de Fevereiro no Brasil através da Netflix, The Cloverfield Paradox (O Paradoxo Cloverfield, em português) é o terceiro filme da franquia Cloverfield, escrito por Oren Uziel e Doug Jung, dirigido por Julius Onah e produzido pela Bad Robot Productions de J. J. Abrams (a mesma produtora responsável pela co-produção de outros ótimos títulos de ficção científica como Super 8, Star Trek Beyond, Star Wars: The Force Awakens e séries como Lost, Fringe e Westworld).
Se você não chegou a acompanhar os demais filmes da franquia Cloverfield e aprecia o gênero “ficção científica apocalíptica”, vale a pena conferir os filmes anteriormente lançados (especialmente Cloverfield – Monstro, o primeiro título da franquia). Por terem enredos únicos conectados superficialmente (não sendo necessariamente continuações), permitem serem assistidos e compreendidos individualmente. Talvez este seja a maior virtude e ao mesmo maior defeito desta franquia.
Explico: o primeiro filme, Cloverfield – Monstro, lançado em 2008 desenvolve a narrativa de uma forma interessante no estilo found footage (registro em câmera como utilizado nos filmes A Bruxa de Blair e REC). Ele mostra o registro de pessoas comuns que estavam em uma festa e se viram atingidas por tremores seguidos por rugidos animalescos, explosões e movimentação militar no exterior do prédio até se darem conta da situação amplamente caótica onde estão inseridas. A sequência de narrativa e enredo são consistentes, o clima de tensão e luta pela sobrevivência estão presentes durante todo filme e os efeitos visuais (explosões, ambientação e principalmente os monstros estão ótimos, suportados pelo cenário noturno).
O segundo filme entitulado “Rua Cloverfield, 10” aqui no Brasil (2016), possui um estilo mais thriller psicológico, foi um roteiro intitulado The Cellar que durante sua produção foi adaptado por J. J. Abrams como “história paralela” a Cloverfield. O filme conta a história de Michelle, que após um acidente de carro acorda presa em um bunker com um homem chamado Emmett (que alega ser um sobrevivente) e Howard que explica que um ataque de origem desconhecida ocorreu e ele a resgatou para seu bunker. O filme se passa todo praticamente dentro do bunker, focado na tensa interação dos personagens e excelente atuação de seu elenco (que conta com astros como o veterano John Goodman e Mary Elizabeth Winstead, eternizada como Ramona Flowers de Scott Pilgrim).
Então voltamos a este terceiro filme que foi baseado em um script do Oren Uziel chamado God Particle (a trama gira em torno de uma equipe numa estação espacial e originalmente também não estava conectada a franquia Cloverfield). O filme se passa no ano de 2028 com o planeta mergulhado numa crise energética, onde num último esforço de cooperação agências espaciais lançam um acelerador de partículas, o Shepard, para tentar buscar uma fonte inesgotável de energia. O filme apresenta de forma coerente o contexto, a equipe espacial e seus conflitos particulares, a estação espacial, a missão… Os problemas no enredo começam justamente no ponto de conexão que tentam fazer artificialmente com o restante da franquia, onde pouco antes do experimento os astronautas assistem uma entrevista com um especialista alertando sobre o paradoxo espaço-tempo capaz de abrir portais para múltiplos universos paralelos e intercambiar seus horrores.
A partir daí tudo fica muito previsível: como podemos imaginar, o experimento com o acelerador de partículas dá errado, o paradoxo entre dimensões acontece para justificar os monstros na Terra do primeiro filme e tudo mais é uma sequência de clichês de filmes espaciais. O elenco e atuação não são ruins, a trama chega a ser bem construída principalmente em torno da personagem principal e clima de desconfiança entre os membros da equipe. A produção também é ótima, da estação bem construída aos incidentes que nela ocorrem. Mas a falta de ganchos interessantes dentro do cenário proposto além dos problemas técnicos da estação e tensão entre a equipe dão um ritmo arrastado ao filme. Quem esperava um filme de horror espacial recheado de monstros na estação (como no game Dead Space ou até mesmo no clássico filme do gênero “Alien, o Oitavo Passageiro”) se decepcionou; há elementos excessivamente cômicos desnecessários (ao estilo Família Addams e Uma Noite Alucinante 3) e a ausência do elemento “medo do que possa ter vindo de outra dimensão” estragam o potencial do filme.
Acredito portanto que o grande defeito de Paradoxo Cloverfield seja não extrair nem metade de seu potencial. E entendo que isso seja mera consequência desta adaptação de roteiros que aparentemente virou praxe na franquia. Talvez seja hora de J. J. Abrams abandonar seu projeto que outrora foi inovador e está piorando a cada sequência (como já vimos acontecer com tantos filmes). Ou talvez seja a hora de realmente se dedicar a escrever um roteiro 100% Cloverfield se decidir persistir nele.
Fonte: Infosfera
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