“Cuide-se, proteja-se, tempos difíceis, a Organização Mundial de Saúde avisou, fizeram pouco caso, Chefe de Estado minimizou”, compôs o rapper MV Bill na sua casa, na comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, durante o isolamento. A música Quarentena segue o estilo de composição do artista, crítica social proferida em forma de música, e condensa o cenário da pandemia no Brasil. Com mais de 13,5 milhões de pessoas morando em favelas, segundo dados do Data Favela e pelo Instituto Locomotiva, nenhum plano público nacional específico para a população que vive nessas condições foi implementado.

 

Um dos fundadores da Central Única das Favelas, a CUFA, Bill acompanhou o crescimento vertiginoso das comunidades no país, principalmente na capital carioca, e o descaso com que os moradores dessa região sempre foram tratados. Por isso, a letra do seu lançamento, que o clipe também foi produzido dentro de casa, tem endereço certo.

 

“A música veio como uma forma de alento para a população e chamada de atenção das autoridades mundial, que precisam cuidar das pessoas como um todo, porque se não cuidar da periferia, ela pode se tornar um grande polo de proliferação. Não só no Brasil, como no mundo. As periferias dos países sul-americanos, dos guetos norte-americanos, dos países do continente africano. Senão teremos uma contagem de corpos muito grande”, alerta o músico.

 

Para Bill, a rotina com distanciamento social é um outro mundo, já que está acostumado a ter muita gente por perto, seja nos shows ou palestra, mas a música trouxe um pouco da sua realidade de volta. “Quando fiquei sabendo que precisaria ficar em casa, pensei em uma maneira de continuar me comunicando com as pessoas não só através das redes sociais, mas também da arte. E veio a ideia de fazer a música falando sobre o assunto, principalmente por ver que aqui na Cidade de Deus muita gente não tava com a noção exata da periculosidade do vírus, mesmo com alguns casos de suspeitas”, lamentou.

 

Inserido na vivência da periferia, o rapper acredita que o fato do coronavírus chegar no Brasil pelas classes mais altas, gerou uma mobilização maior, porém a quem da esperada. “Se fosse o contrário, começando pelas camadas mais pobres, talvez nem preocupação teria. Só que é um erro não olhar para a pandemia nesses lugares com menos estrutura, porque as casas são mais próximas, a quantidade de gente dentro da casa é grande e o isolamento é quase impossível. Uma vez chegando lá, pode ganhar ainda mais proporção e se alastrar com mais facilidade”, lembra o artista.

 

Ajuda de dentro

O trabalho voluntário foi e ainda é essencial no combate da circulação do coronavírus nas regiões periféricas. Organizações Não-Governamentais e até moradores enxergam as particularidades das pessoas que vivem na favela e passam a viver ainda mais vulneráveis em um cenário como esse.

 

“Com a Covid-19, pode piorar, já que o saneamento básico é inexistente, alguns lugares nem tem água potável e muitos moradores são trabalhadores informais. Uma vez que não pode sair de casa por conta do isolamento, que também é necessário, essa pessoa passa a ficar sem renda. Então, esse trabalho individual e coletivo, é importante”, afirma Bill. Entretanto, essa ajuda também deve ser feita de maneira planejada em sua visão. “A minha preocupação é que essa boa ação não crie uma aglomeração. São grandes guerreiros que estão na rua e não podem ser contaminados e nem contaminar”, alerta.

 

Quem puder, fique em casa

O rapper faz um alerta sobre o distanciamento social como forma de prevenção à Covid. “Ficar sem poder sair de casa não é uma coisa muito boa, mas é necessária nesse momento. Tem milhões de vírus que morrem, quando pessoas ficam em casa, por falta de hospedeiro. Sei da dificuldade de muitas pessoas para fazer isso, mas quem tem essa oportunidade, como eu, fiquei em casa para diminuir a circulação. É a única forma de evitar e achatar a curva. Depois da Covid, o mundo jamais será o mesmo”, finaliza.

 

Fonte: Claudia.


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